IMPACTOS CARDIOVASCULARES DA COVID-19: MECANISMOS, RISCOS E ESTRATÉGIAS DE MONITORAMENTO A LONGO PRAZO
CARDIOVASCULAR IMPACTS OF COVID-19: MECHANISMS, RISKS, AND LONG-TERM MONITORING STRATEGIES
Palavras-chave:
COVID-19, complicações cardiovasculares, inflamação, trombose, acompanhamento cardiológico.Resumo
INTRODUÇÃO: A COVID-19, causada pelo SARS-CoV-2, teve um impacto profundo nas complicações cardiovasculares, aumentando o risco de infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC). Pacientes infectados, especialmente aqueles hospitalizados, apresentam risco significativamente maior de desenvolver problemas cardíacos em comparação com indivíduos não infectados. Estima-se que o risco de eventos cardiovasculares aumente de duas a quatro vezes em pessoas que contraíram COVID-19 em 2020, principalmente entre os hospitalizados, mantendo-se elevado por até três anos após a infecção. Esse risco persistente está associado a danos inflamatórios nos vasos sanguíneos e artérias, promovidos pela resposta imune exacerbada e pela presença direta do vírus no endotélio vascular. Essa condição favorece inflamações crônicas e tromboses, agravando ou desencadeando complicações cardíacas. A tendência reforça a necessidade de monitoramento clínico contínuo em pacientes pós-COVID-19, sobretudo naqueles que apresentaram formas moderadas ou graves da doença. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, realizada por meio de busca nas bases de dados PubMed, Scopus e ScienceDirect, utilizando os descritores: “COVID-19”, “cardiovascular complications”, “long COVID” e “SARS-CoV-2”. Foram incluídos artigos publicados entre 2020 e 2024, nos idiomas inglês e português, que abordassem associações entre infecção por COVID-19 e desfechos cardiovasculares. Excluíram-se estudos que não especificavam os critérios diagnósticos de complicações cardiovasculares ou que apresentavam populações não humanas. Após triagem, 28 artigos foram selecionados para análise. RESULTADOS: A análise da literatura revelou que indivíduos acometidos por COVID-19 apresentam maior incidência de eventos cardiovasculares mesmo após a fase aguda da doença. Os eventos mais comuns incluem miocardite, pericardite, arritmias, tromboembolismo venoso e acidente vascular cerebral. Estudos de coorte demonstraram aumento significativo do risco relativo (RR) para eventos cardíacos em até 4,0 vezes nos 12 primeiros meses após a infecção. A persistência de alterações inflamatórias e disfunção endotelial foi observada em exames laboratoriais e de imagem, como elevação de marcadores inflamatórios (PCR, D-dímero, troponina) e alterações em ecocardiogramas, mesmo em pacientes que se recuperaram clinicamente da infecção aguda. DISCUSSÃO: Os dados apontam para uma associação clara entre a infecção por SARS-CoV-2 e o desenvolvimento de complicações cardiovasculares persistentes, em especial nos pacientes que evoluíram com quadro moderado a grave da doença. A resposta inflamatória sistêmica, acompanhada de lesão endotelial direta, ativa processos de coagulação e agrava a vulnerabilidade cardiovascular preexistente. A literatura destaca que a COVID-19 pode precipitar ou acelerar doenças cardiovasculares latentes, o que justifica a implementação de estratégias de acompanhamento cardiológico a longo prazo. Além disso, evidências sugerem que o risco é independente de comorbidades prévias, indicando que mesmo indivíduos jovens e previamente saudáveis podem desenvolver disfunções cardíacas após a infecção. CONCLUSÃO: A infecção por COVID-19 representa um fator de risco relevante para o desenvolvimento de complicações cardiovasculares em curto, médio e longo prazo. A persistência desses efeitos reforça a importância de incluir o acompanhamento cardiológico como parte do cuidado integral aos sobreviventes da COVID-19. Estratégias de triagem, rastreamento de biomarcadores e exames de imagem devem ser incorporadas às diretrizes clínicas, com foco na prevenção de desfechos graves. Assim, a compreensão dos mecanismos patológicos e a vigilância clínica contínua tornam-se essenciais para reduzir a morbimortalidade cardiovascular associada à pandemia.
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